CHURRASCARIA ARGENTINA
WINEMAKERS

Aberto todos os dias

12 - 17:30 hs. | 18:15 - 00:00 hs.

NOVIDADES

O restaurante familiar que conquistou Diego Maradona e Freddie Mercury com suas incríveis carnes e massas – onde fica?

Três gerações de chefs continuam conquistando paladares com seu icônico ojo de bife e com o "melhor tiramisù" de Buenos Aires.

No coração de Palermo Soho, onde cultura, arte e gastronomia se encontram, há um restaurante que se tornou um símbolo da culinária portenha.

O El Caldén del Soho, localizado na icônica esquina de Honduras e Malabia, não é apenas um lugar para saborear uma boa refeição; é um espaço familiar com mais de seis décadas dedicadas à boa comida, segundo seus clientes.

Especializado em carnes e massas, o restaurante testemunhou momentos históricos e recebeu celebridades como Freddie Mercury, Diego Maradona, Pelé, Enzo Francescoli e até Julio Iglesias, que gostava tanto do bife de chorizo que mandava buscá-lo de avião diretamente do restaurante.

Com sua fachada avermelhada e um interior que combina o rústico e o moderno, o El Caldén manteve-se fiel às suas raízes enquanto se adaptava aos novos tempos.

Qual é a sua história gastronômica?

A história da família Mattei começa nos anos 50, quando Ángel Mattei, descendente de italianos, começou a vender seus pratos em um carrinho na Costanera.

Conhecido como o carrinho número 39, Ángel servia seus pratos enquanto os banhistas aproveitavam as águas do rio. O sucesso foi imediato, tanto que, anos depois, a família abriu o restaurante Los Años Locos, que atingiu um recorde de 43.000 clientes em um único mês.

Este restaurante, o primeiro da Costanera, marcou um antes e um depois na gastronomia portenha.

A tradição dos Mattei continuou com seu filho Jorge e, mais tarde, com Mauricio Mattei, que, embora formado em Economia, decidiu seguir os passos da família e fundou o El Caldén del Soho em 2006.

Como é o restaurante?

A estrutura do El Caldén del Soho reflete uma perfeita fusão entre o clássico e o moderno. A robustez de sua construção em tijolo e pedra, adornada com colunas e molduras tradicionais, combina-se com o charme contemporâneo do bairro, criando um ambiente sofisticado e acolhedor.

O espaço foi cuidadosamente projetado para oferecer um ambiente elegante e confortável, com detalhes decorativos e uma iluminação suave, garantindo que cada refeição no El Caldén del Soho seja uma experiência única.

Quais são os pratos principais do El Caldén del Soho?

Os clientes são recebidos com um detalhe que já virou marca registrada da casa: os alhos confitados, caramelizados à perfeição. Estes alhos, servidos como aperitivo, surpreendem pelo sabor suave e adocicado, deixando os visitantes com vontade de mais.

"As pessoas às vezes nem sabem que são alhos e pedem para levar para casa", comenta Mauricio, o atual proprietário, sorrindo.

A cozinha do El Caldén é fiel às suas raízes italianas, e suas massas refletem essa tradição. No entanto, o verdadeiro destaque da casa é a carne, especialmente o corte ojo de bife, o grande carro-chefe do restaurante.

"É o nosso prato mais famoso", afirma Mauricio, que também destaca o chorizo caseiro, feito com carne suína. Quem prova, sempre volta para mais.

Outro grande sucesso do menu é o tiramisù, eleito o "Melhor Tiramisù de Buenos Aires" pelo TripAdvisor.

Quais são os horários de funcionamento?

O El Caldén del Soho abre todos os dias, oferecendo sua experiência gastronômica em dois turnos, para que os clientes possam desfrutar da sua cozinha em qualquer momento do dia: De segunda a domingo 12h00 às 17h30 - 18h15 à meia-noite.

Por Brenda Murphy

Um clássico da churrascaria: “Julio Iglesias mandava um avião para buscar os bifes no Brasil”

As três gerações dos Mattei dirigiram restaurantes icônicos dos anos 70 e 80, como Los Años Locos e Look; hoje, estão à frente de uma churrascaria que atrai turistas e celebridades

Dos carrinhos da Costanera a Puerto Madero, de Puerto Madero a Palermo. As três gerações da família Mattei percorrem a história da gastronomia portenha das últimas cinco décadas, com restaurantes icônicos como Los Años Locos, La Rosada ou Look... e, mais recentemente, com uma volta às origens em seu Caldén del Soho. Suas vivências e suas anedotas inclusive dão conta das mudanças nos costumes e dos hábitos.

Falam dos restaurantes abertos até as seis da manhã aos que hoje se nutrem principalmente do turismo internacional. Sabem o que é “fazer 1500 couverts” por turno e também apenas 10 em toda uma noite pelas restrições da pandemia. Os Mattei atravessaram mil crises: do Rodrigazo a 2001, todas. E são testemunhas da mudança cultural de uma cidade que antes não dormia mas que hoje vai para a cama bem cedo.

Jorge e Mauricio, segunda e terceira geração da família de gastronômicos Mattei

A história começa com Ángel Mattei, que veio da Itália para a Argentina escapando da guerra e, após levar adiante distintos negócios, abriu o carrinho 39 da Costanera. “Papai era comerciante, havia tido uma cigarreria por atacado e uma concessão em Palermo para a venda de refrigerantes. Nos anos 60 se lhe ocorreu comprar um dos carrinhos da Costanera. Se chamava Saint Tropez, porque estava justo em frente ao balneário Saint Tropez, que funcionou até meados dos 70. Nessa época havia, de ponta a ponta da Costanera, 53 negócios”, recorda Jorge Mattei, filho de Ángel e pai de Mauricio (hoje à frente do El Caldén del Soho).

Ángel Mattei junto a Diego Maradona em Los Años Locos.

“Em 70 faleceu o irmão de meu pai e ele lhe deixou Saint Tropez a sua cunhada. Decidiu se associar com um colega que tinha o carrinho Los Años Locos –recorda Jorge, de 69 anos, com meio século de vida na gastronomia–. Em 1974 inaugurou o novo Los Años Locos, de dois andares, e tiveram um sucesso explosivo: recebiam todas as celebridades. Até reis da Europa iam comer ali!.

–Por que o sucesso?

–Na Argentina, nos 70 e até parte dos 80, todo o mundo saía para comer fora. Havia classe média e muito consumo. Fazíamos 34.000 couverts mensais. Por outro lado, existia “a noite portenha”: nós fechávamos às seis da manhã porque havia gente que vinha comer às duas ou às quatro, quando saía da função trasnoite dos teatros. Ainda por cima, ficavam fazendo sobremesa. A Buenos Aires nessa época lhe diziam “a Paris da América”.

Freddie Mercury, do Queen, durante sua visita a Los Años Locos.

–Qual era o prato estrela?

–Era tudo churrasco, clássico. A estrela era um bife de chorizo de meio quilo que ninguém terminava. Mas aí não havia meias porções: era um bife, um lombo, um quarto de frango... Olhava a churrasqueira e era impressionante: sempre estava cheia de cortes. A churrasqueira se acendia para o almoço e não se apagava até que se ia o último comensal, às cinco ou seis da manhã.

–Que celebridades passaram por Los Años Locos?

–Todos, desde Pelé ou Maradona até Freddie Mercury. Julio Iglesias era um habitué. Não só vinha comer, senão que quando estava em Buenos Aires e tinha que ficar no hotel se fazia levar a comida. E quando estava de gira pelo Brasil, mandava um avião a Buenos Aires para que lhe mandássemos os bifes ao Rio de Janeiro. Inclusive levava no avião um garçom nosso, Horacio, que era o que sempre o atendia no restaurante. Vinham muitas celebridades porque meu pai era muito convocante, era amigo de Carlos Petit, por exemplo, que era “o rei da revista portenha”. Inclusive, uma temporada Petit fez uma obra que se chamou Los Años Locos.

–Quando ingressou no negócio familiar?

–Em 74, no velho carrinho, antes que se inaugurasse o novo Los Años Locos. Tinha 18 anos e comecei no caixa, depois em compras... Sei fazer de tudo, mas nunca estive na cozinha.

Ángel Mattei junto a Moría Casán

–O que aprendeu de seu pai?

–Que a qualidade não se negocia. É um mandato familiar. Meu pai definia o sucesso gastronômico como a mercadoria de primeira linha. Vou te contar uma anedota que ilustra isto, de quando comecei a trabalhar no restaurante. Meu pai me deu as chaves do carro, um Chevy, e me disse que fosse comprar morangos a Florencio Varela. “Papai, por que tão longe, se aqui perto há morangos bons?”, lhe dizia. “Os melhores estão aí, vá e encha o porta-malas”. Fui e os morangos eram gigantes, doces; a gente entrava no restaurante, os via e os pedia de sobremesa. Era esse produto, essa qualidade, o que fazia que a gente esperasse até três horas para se sentar a comer quando havia muita concorrência.

–Quanto tempo estiveram em Los Años Locos?

–Até 96, mas em 1981 meu pai abriu Look, também na Costanera. Era cozinha internacional e pizzaria, tipo “pizza com champagne”. Inclusive em 82, em plena Guerra das Malvinas, veio nos visitar um inglês que era o representante de Pizza Hut para a América do Sul, para nos tentar de abrir o primeiro Pizza Hut de Buenos Aires. E lhe dissemos que não. Em Look trabalhava Pedro Muñoz, que havia sido o chef do Plaza Hotel, e que quando se aposentou veio trabalhar conosco. Era um número um da gastronomia, eu aprendi muito dele.

–E logo desembarcaram em Puerto Madero.

–Abrimos em 97 e estivemos nada mais que sete anos. A parte sul de Puerto Madero recém se estava desenvolvendo, quando nos fomos todavia não se havia consolidado. Se chamava La Rosada e tinha uma proposta de cozinha internacional. De alguma forma, fomos pioneiros na zona.

Frente do El Caldén del Soho no bairro de Palermo

Voltar a começar

Mauricio, terceira geração dos Mattei, não pensava originalmente seguir o legado gastronômico. “Havia terminado a universidade, sou licenciado em Economia, e estava começando a ver como seguia minha vida laboral –recorda Mauricio, de 42 anos–. Me dava um pouco de coisa seguir na tradição familiar. Mas meio por casualidade se deu que uns primos de papai se iam do negócio, vendiam El Caldén del Soho, e decidimos tomar esta oportunidade”.

–Como era Palermo nessa época?

–O Caldén havia aberto em 2004 e nós viemos em 2006. Nesse momento havia muitas casas e muitos vizinhos; hoje são todos negócios comerciais. Mas já se vinha vislumbrando que podia ser um shopping a céu aberto. Para nós era um desafio distinto. Vínhamos de negócios muito volumosos, com outro contexto de país, e buscávamos uma unidade econômica rentável, com um pouco mais de comodidade. Eu ademais estava fazendo meus primeiros passos na gastronomia.

A churrasqueira clássica é o selo distintivo do El Caldén.

–Reformularam a proposta do restaurante?

–Sim, quando chegamos tinha uma impronta palermitana, de churrasco de autor. E nós o viramos ao churrasco clássico, que é o que conhecíamos bem. Hoje nossos pratos mais pedidos são o olho de bife e a entraña. O estrangeiro que vem ao restaurante vem direto ao olho de bife.

–Custou gerar uma clientela?

–No princípio vinham muitos clientes dos anteriores restaurantes da família. O que encontramos em Palermo foi muito turismo, e um turista que o que busca quando chega a Buenos Aires é a carne: em algum momento de sua estadia um churrasco se come!

–Como viveram a pandemia?

–Foi dura. Estivemos com o negócio fechado dez meses sem fazer nada. Porque a churrasqueira é muito difícil para trabalhar com delivery. Você come um olho de bife recém saído da churrasqueira e não tem nada a ver com o que viaja do restaurante a sua casa, não quisemos bastardear o produto. Quando pudemos abrir, abrimos. No princípio com mesas fora e uma capacidade para 10 pessoas. Foi como voltar a começar.

– Acá também vêm celebridades?

– Também. Se bem que no princípio vinha gente do ambiente do teatro, hoje que os restaurantes fecham mais cedo, que já não existe essa noite portenha da época de Los Años Locos, preferem comer no centro. O que recebemos acá é muita celebridade internacional, músicos que vêm ao Lollapalooza, atores de fora. Uma anedota divertida é quando veio Matt Smith, que atua agora em La Casa del Dragón. Veio em dezembro, um dia que o restaurante estava cheio de gente; se aproximou da porta e me perguntou por uma mesa para duas pessoas. Lhe disse que quando houvesse mesa o faria passar e ficou esperando fora. Quando entrou, se pararam de todas as mesas para tirar fotos e lhe pedir autógrafos. Então perguntei e me disseram quem era, ainda que em bermudas e tênis se o vê muito distinto de como aparece caracterizado na série. Mas por outro lado se vê que lhe gostou que o tratássemos como uma pessoa comum, porque voltou três ou quatro vezes ao restaurante.

Por Sebastián A. Ríos